Bird Box: você viu o que eu vi?

Alguns incômodos com o filme que virou meme em 2019 e sua origem: um ótimo livro de terror psicológico. Contém spoilers.

Já faz um tempo que concluí a leitura de “Caixa de Pássaros”, de Josh Malerman. Ganhei de um amigo há anos e só decidi ler depois que a Netflix colocou “Bird Box” em seu catálogo, confiando no conhecido argumento leitor: “vou ler o livro antes de ver o filme”.

A vida é feita de decepções e temos que aceitá-las, não é mesmo? Uma vez entrevistei um crítico de cinema de Fortaleza, o Diego Benevides, sobre adaptações de livros para o audiovisual e ele me falou muito sobre o roteiro e a obra e como eles passam por diversas visões diferentes antes de serem finalmente lançados. Que nenhuma adaptação é 100% fiel a seus textos de origem.

Devia ter me deixado levar por este argumento ao invés do anterior. Existem mudanças na ambientação um tanto compreensíveis até, mas “Bird Box” traz falhas tão gritantes com a história original que tenho que dizer: aquele filme conta a história de outra Malorie que sobreviveu com duas crianças a uma epidemia suicida causada por criaturas desconhecidas despertando consciências assustadoras nas pessoas.

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Personagens (não tão) certos nas horas erradas

Minhas inquietações começam quando Malorie (Sandra Bullock) não tem os vinte e poucos anos da Malorie do livro e sua irmã, Jessica (Sarah Paulson) – que não se chama Shannon, como no livro – não moram juntas.

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Outra coisa que me incomoda é: todos os sobreviventes da casa já estão mortos e sobram somente Malorie, as crianças e… Tom (Trevante Rhodes). Sendo que, no livro, ele também morre depois do nascimento das crianças. Parece que não faria sentido que uma mulher e seus filhos sobrevivessem quatro ou cinco anos sozinhos sem um homem.

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Era para fazer sentido?

Quando Malorie finalmente chega no tão mencionado “lugar seguro”, dá de cara com Dra. Lapham (Parminder Nagra), a médica que cuidou de sua gravidez antes do apocalipse. Uma personagem totalmente nova inserida na história, trazendo uma certa segurança à personagem que fica tão apreensiva ao chegar no prédio e encontrar tantas pessoas cegas.

Assim como no livro, Malorie sente medo de que queiram lhe cegar e às crianças ali também.

A única coisa que justifica tantas mudanças na trama – até a inserção de um GPS de carro – é realmente a necessidade de fazer algum sentido. Mostrar às pessoas que aquilo poderia acontecer de verdade, utilizando elementos atuais e reconhecíveis. Mas quando soma-se a tecnologia e os novos personagens a algo que já estava perfeitamente elaborado no livro, se torna impossível não sentir vontade de mudar para algum outro filme ou série de terror.

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